Do Haiti ao Rio de Janeiro e vice-versa: a pacificação enquanto pilar da governamentalidade brasileira acerca da paz

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26792/rbed.v8n2.2021.75254

Palavras-chave:

Pacificação, Governamentalidade, UPPs, MINUSTAH.

Resumo

Tendo em conta a crescente aparição do termo pacificação no vocabulário político brasileiro e a sua constante associação ao uso de políticas militarizadas para o combate a grupos criminosos e para a retomada das regiões periféricas dominadas por esses grupos, o presente artigo analisa como a ideia de pacificação está no centro das práticas brasileiras de construção da paz - seja em âmbito doméstico ou internacional. Dessa forma, entende-se que a ação militar é um aspecto central da governamentalidade brasileira no que toca a construção da paz, nacional e internacionalmente. Para aprofundar essa temática, o artigo analisa de que maneira a experiência brasileira no comando militar da Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (MINUSTAH) está relacionada com as práticas e racionalidades presentes nas Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) cariocas e vice e versa. Para isso, esse trabalho está dividido em duas seções. A primeira seção se direciona a discutir como a palavra pacificação acaba por formar e informar aspectos importantes da governamentalidade brasileira concernente à paz. A segunda seção, por sua vez, se direciona analisar as conexões existentes entre as práticas pacificadoras empreendidas pelo exército brasileiro no Haiti e a política de pacificação do Rio de Janeiro.

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Biografia do Autor

Natali Hoff, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Mestra em Ciência Política pela UFPR, é Professora de Relações Internacionais no Centro Universitário Curitiba; e Professora de Relações Internacionais e de Ciência Política no Centro Universitário Internacional (Uninter, Brasil), e atualmente é Doutoranda em Ciência Política no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (PPGCP-UFPR). E-mail: natali.hoff@gmail.com.

Ramon Blanco, Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Ramon Blanco, Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq - PQ2, é Professor Adjunto no curso de Relações Internacionais e Integração da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Na UNILA, coordena o Núcleo de Estudos para a Paz (NEP) e a Cátedra de Estudos para a Paz (CEPAZ). É, também, Professor Permanente no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da mesma Universidade (PPGRI-UNILA) e no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (PPGCP-UFPR). O autor agradece o auxílio financeiro proporcionado às suas pesquisas pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UNILA sob os seguintes instrumentos financeiros: PRPPG No 109/2017, PRPPG No 58/2018, PRPPG No 110/2018, PRPPG No 149/2018, PRPPG No 154/2018, PRPPG No 25/2019, PRPPG No 80/2019, PRPPG No 66/2020, PRPPG No 104/2020, PRPPG No 105/2020, PRPPG No 166/2021, PRPPG No 205/2021. Além disso, o autor agradece o apoio financeiro recebido por meio do Programa de Pesquisa Básica e Aplicada (PBA - Chamada Pública 09/2021) da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná e por meio da Bolsa de Produtividade em Pesquisa - PQ 2 (Chamada CNPq No 04/2021 – Processo 305331/2021-3) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq .É autor de Peace as Government: The Will to Normalize Timor-Leste. London: Lexington Books, 2020 e (em co-autoria com Alexsandro Eugênio Pereira) de Teorias Contemporâneas de Relações Internacionais. Curitiba: Intersaberes, 2021. E-mail: ramon.blanco@unila.edu.br.

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Publicado

2022-04-05

Como Citar

Hoff, N., & Blanco, R. (2022). Do Haiti ao Rio de Janeiro e vice-versa: a pacificação enquanto pilar da governamentalidade brasileira acerca da paz. Revista Brasileira De Estudos De Defesa, 8(2). https://doi.org/10.26792/rbed.v8n2.2021.75254

Edição

Seção

Artigos